Após polêmica de açaí contaminado, Saúde investiga prontuários no AC

Saúde procura pacientes que tiveram sintomas da doença de chagas em Feijó.
Exames em amostras acharam DNA de barbeiro em amostras de açaí.

O agricultor Maurício da Conceição, de 64 anos, diz que toma mais cuidado ao fazer o açaí  (Foto: Anny Barbosa/G1)

Após a polêmica sobre o açaí do Acre está contaminado com o barbeiro - inseto transmissor da doença de chagas - a Divisão de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) está investigando os prontuários das unidades de saúde de Feijó, no interior do estado. A informação foi confirmada ao G1 pela técnica responsável pela Doença de Chagas e Leishmaniose da Sesacre, Carmelinda Gonçalves.

A ideia é verificar a existência de pacientes que apresentaram febre não relacionada a outras doenças no período do Festival do Açaí, em agosto deste ano. Neste período, a Saúde coletou cinco amostras do produto para exame e ficou comprovado que 100% estavam com a presença do DNA de "barbeiro" – inseto transmissor da doença de chagas.

saiba mais

  • Exames acham transmissor da doença de Chagas em amostras de açaí
  • Casos de doença de chagas têm aumento de 216% em 2016 no Acre

"Depois do festival não apareceu ninguém nem sequer em estado febril. Nós estamos fazendo a busca de prontuários, laudos e exames tanto dos casos febris na época do festival e 21 dias após a festa, que é o período de encubação da doença. Até agora não apareceu nenhum caso", afirma a técnica.

A técnica explica que a presença do DNA do transmissor da doença nas amostras de açaí coletadas não quer dizer que o parasita estava vivo ou contaminando as pessoas que consumiram o produto. As verificações dos laudos e prontuários estão sendo feitas no hospital e em unidades de saúde de Feijó.

"A gente tem quase certeza que o que estava presente era apenas a marca do parasita, mas, ele mesmo vivo não estava. Isso significa que o parasita esteve presente naquele fruto do açaí, talvez até as fezes dele, mas com a manipulação adequada ele morreu, e aí ficou apenas a marca, que é o DNA", explica Carmelinda.

A conscientização da população para a importância da manipulação e higienização adequada do açaí é o que, segundo a técnica, precisa ser feito. "Esse conhecimento por parte da população, vai forçar os produtores a fazerem a higienização adequada do produto. Na verdade, o açaí não é o vilão, o vilão é a falta de higienização desses frutos", finaliza.

Exames em amostras de açaí
Exames feitos com cinco amostras de açaí do município de Feijó, no interior do Acre, no período de agosto deste ano, encontraram DNA de barbeiro – inseto transmissor da doença de Chagas -  em 100% do material coletado. O resultado dos exames foi divulgado em coletiva de imprensa, nesta segunda-feira (10), em Rio Branco.

O secretário de Saúde do estado, Gemil Júnior, informou que todas as amostras foram coletadas em um único dia, durante o tradicional festival do açaí na cidade de Feijó.

Acre registra 21 casos da doença de chagas em 2016
O Acre registrou 21 casos de doença de chagas até o mês de outubro deste ano. Os dados, da Divisão de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), mostram que dos casos, 19 foram causados pelo consumo do açaí contaminado. Os outros dois casos registrados são considerados "vetoriais", quando são causados pelo contato direto com o "barbeiro".

Os dados apontam que o número de casos comprovados da doença de chagas em todo o estado aumentou 250% em relação ao registrado durante todo o ano de 2015. No ano passado foram registrados seis casos contra os 21 nos dez primeiros meses de 2016.

Dos casos registrados, 15 foram de pessoas da mesma família, na zona rural do município de Feijó. Segundo informações da a técnica responsável pela Doença de Chagas e Leishmaniose da Sesacre, Carmelinda Gonçalves, inicialmente 13 da mesma família tinham sido diagnosticadas com a doença, porém, em seguida, a doença foi detectada em outros dois membros. Os outros casos, quatro foram em Rodrigues Alves e dois em Cruzeiro do Sul.

Mortes
Em março deste ano, o casal Francisco Maian da Costa, de 18 anos, e Celiana Silva, de 17, nos dias 26 e 29 de fevereiro, respectivamente, morreram após tomar açaí contaminado pelo barbeiro. A família do casal mora em uma comunidade rural da cidade de Rodrigues Alves, a 627 km da capital acrena. Inicialmente, a doença de Chagas era apenas a suspeita, sendo confirmado o diagnóstico no dia 11 de março pela Saúde do Acre.

Duas irmãs de Costa também foram diagnosticadas com a doença. A pequena Francisca Adrielly, de 12 anos, ficou internada por mais de um mês no Hospital da Criança, em Rio Branco, e ficou com uma lesão no coração, por causa da enfermidade, segundo a médica que a atendeu.

Exija do seu Comercio ou do seu Fabricante